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Pesquisa Qualitativa de enfoque Etnográfico

Livro Eletrónico (PDF)

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Texto integral da apresentação da obra por Rui Alexandre Grácio

Como se pode depreender do título, trata-se de um livro sobre metodologia de investigação científica.
É escrito a quatro mãos, ocupando-se as mãos de Ángel Aguirre Baztán, professor em Barcelona, Espanha, da vertente teórica/metodológica e as mãos de Clerton Martins, professor em Fortaleza, Brasil, da vertente aplicada/prática (com um estudo que incide, especificamente, sobre o Maracatu de Fortaleza).

É também um livro com uma feição deliberadamente didática que procura, passo a passo, introduzir o leitor a esta metodologia, referida como qualitativa de enfoque etnográfico, ou seja, que tem por objeto o estudo da cultura de uma comunidade ou de algum dos seus aspetos fundamentais.
No fundo, o livro responde à pergunta: que procedimentos metodológicos são os adequados para um tal estudo? E, ao mesmo tempo, apresenta um exemplo de aplicação desses procedimentos metodológicos descritos na primeira parte do livro de uma forma detalhada.
Do livro, gostaria apenas de destacar algumas das que me parecem ser importantes linhas de força.

1. Em primeiro lugar, ele propõe-nos uma visão alternativa às metodologias quantofrénicas e aos efeitos de fragmentação (e desumanizadores) por elas produzidos. Como se sabe, nas metodologias quantitativas a objetividade do conhecimento reside na medição e na quantificação. Neste livro é proposta outra via, ou seja, um acesso qualitativo, mas controlado, à realidade investigada.

2. Mas, se de qualitativo estamos a falar, como é que a observação e a investigação pode ser feita, digamos, de uma forma não-invasiva? Como controlar os procedimentos de modo a não interferir negativamente, ou seja, de modo a não provocar distorções, nos fluxos vivenciais e experienciais, nas formas de vida que se pretende investigar?

3. Ora, neste momento, é preciso entrar com outra linha de força deste livro e que é a reivindicação de uma base hermenêutica para todo o conhecimento reconhecido como científico. Ou seja, afirma-se aqui o primado de interpretação como pressuposto de qualquer conhecimento. Esta é aliás uma tese de base da hermenêutica que se torna mais evidente quando nos movemos no domínio da cultura e do humano, ou seja, do sentido.

4. Outra linha de força do método qualitativo de enfoque etnográfico que é proposto neste livro parece ser o abandono da ideia de uma ciência do geral em privilégio de uma ciência capaz de captar o particular na sua particularidade, lembrando um pouco a ideia de Aristóteles sobre a retórica quando este refere que o importante é descobrir o que é adequado para cada caso. Ora o método qualitativo apresentado neste livro é de algum modo um processo de ir ao encontro dos termos e da sensibilidade apropriados ao que é investigado e que, se assim deixarmos, de algum modo emanam dele.

5. Por fim, e na sequência do que anteriormente referi, podemos dizer que na metodologia qualitativa de enfoque etnográfico, o investigador não é um legislador mas um intérprete, e um intérprete que tem a tarefa de formular hipóteses e triar controladamente aquelas que surgem como mais ajustadas àquilo que está a ser investigado, dando assim forma ao informe, ou seja, fazendo surgir uma compreensão capaz de preservar os aspetos genuínos e específicos do que é estudado, e tornando-os, ao mesmo tempo, mais visíveis, articulados e explícitos.

É claro que, tudo isto, é muito discutível. Mas, para mim — que creio que a verdade é um conceito essencialmente antagonístico, que a objectividade é da ordem do argumentável e que penso em termos de politeísmo metodológico — esse não é o problema.
O problema é, antes, haver quem considere que os números, as medições e as quantificações são indiscutíveis e falam por si, sem necessidade de interpretação. Ora, é deste tipo de dogmatismo — e não do que é discutível e se apresenta como discutível — aquilo de que mais medo tenho.
Este é pois um livro a ler e com o qual se pode aprender.