De Tamarindo, ilha imaginária de Cabo Verde, chega-nos a história de Pinok, um menino crioulo com fama de muito mentiroso. O relato de uma amizade entre homens e animais que acaba por salvar a ilha, semeando solidariedade.
Rui Grácio
Palavras sobre Pinol e Baleote, de Miguel Horta
Agora o momento é de «Pinok e Baleote». E, como não me cabe propriamente fazer a apresentação do livro, limitar-me-ei a realçar alguns pontos que me fizeram apostar, enquanto editor, na publicação deste livro.
Em primeiro lugar, o impacto inicial que tive quando li a história foi a de estarmos perante um texto que de algum modo conta à moda antiga. E isto é um elogio. Quando digo à moda antiga, refiro-me à multidimensionalidade formativa da história, à ausência de concessões ao imediatismo facilitista que tantas vezes se vê, à aposta numa narrativa consistente que nos cativa e nos envolve e que não vive de truques mais ou menos artificiais para manter viva a atenção dos leitores. Pelo contrário, encontramos em «Pinok e Baleote» uma linguagem simples e adequada à realidade e ao ambiente que descreve e no qual se passa a acção. Com este aspecto é também consonante o tipo de ilustrações que o autor desenhou e que aqui e ali vão complementando instrutivamente e configurativamente o livro.
Em segundo lugar, a história, passando-se em Cabo Verde, tem o mérito de nos colocar perante uma cultura diferente da nossa (apesar de Cabo Verde pertencer também ao espaço da lusofonia) e de enfatizar como essas diferenças culturais se reflectem nos dialectos ou formas de linguagem locais. A referência ao Crioulo aparece, neste livro como valorização das diferenças culturais, reflectidas em modos de vida, de estar e de sentir com características próprias e, simultaneamente, como forma de estabelecer uma ponte ou uma comunhão entre culturas. E esta ponte é estabelecida com mestria, pois leva o leitor para um plano de curiosidade e de humor — acha-se giro — e, da mesma forma que ensina coisas novas (lá estamos nós a consultar o glossário que aparece no fim do livro), faz sentir a afinidade com as formas de vida e de sentir veiculadas por essa forma de dizer.
Em terceiro lugar, a eleição dos próprios núcleos temáticos da história faz-nos equacionar questões e problemas que, transcendendo a questão da multiculturalidade anteriormente referida, colocam em latência questões de dimensão mais abrangente e planetária: a relação dos homens com os animais (sejam estes baleotes ou também homens) e, mais genericamente, a harmonia e os laços de solidariedade que em torno da natureza se podem estabelecer. É que, nesta obra, vemos baleias a ajudar os homens, encontramos homens a tentar caçar baleias, assistimos à mobilização de homens para defenderem a ajudarem as baleias e, no meio de tudo isto, salta a ideia de que há uma ordem a preservar e que, afinal, há valores que vale sempre a pena defender.
Em quarto e último lugar, o meu contacto com a obra deixou-me convencido que estava perante um texto com potencialidades pedagógicas inegáveis, não só por tudo o que anteriormente referi, mas, também, porque me parece merecer ser considerado um apetecido instrumento de trabalho para todos aqueles que se dedicam à nobre missão de educar e de levarem aos pequenos espíritos ainda em formação as sementes do crescimento.
Sou dos que acredita que sem a cultura e, dentro dela, sem o despertar para o gosto e as possibilidades de aprendizagem veiculadas pelo livro e pela leitura, mas também, para a dimensão critica que essa formação deve incluir, não poderá haver crescimento saudável, ou seja, que tende a comemorar e a preservar a vida.
Por todas estas razões considerei que o livro do Miguel Horta «Pinok e Baleote» reunia um conjunto de méritos que impunham que fosse levado à partilha.
A sua edição, do meu ponto de vista, corresponde à expectativa desta obra se poder juntar ao conjunto de muitas outras obras que contribuem para enriquecer a nossa cultura porque são portadoras daqueles momentos mágicos que, no aconchego da memória, nos acompanham no percurso das nossas existências.
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