A ironia é um fenômeno mais comum do que se pensa: ela pode estar presente na intenção do autor/escritor, pois há quem a pratique de modo natural, fazendo-a “colar” em seus escritos. É o caso de um Eça de Queiroz ou de um Machado de Assis: neles o uso irônico dá a impressão de algo “normal”, esperado. Mas, a ironia pode também aparecer na estrutura de uma narrativa, por meio das vozes que narram determinadas histórias. Além disso, ela pode nos surpreender e como um boneco que salta da caixa, surgir nas reviravoltas que um “misterioso destino” faz acontecer no decorrer da história narrada. Quem ironiza nunca o faz de modo aleatório: um indivíduo, ao formular um julgamento de valor quer criticar alguém ou alguma coisa. Assim, todo sujeito-que-ironiza é um provocador, alguém que quer subverter factos e instituições que aparecem aos seus olhos como por demais rígidos, cristalizados. E tudo que é cristalizado, aceito sem discussão, no âmbito social e comunicativo, pode gerar um acomodamento ou certo apaziguamento/apagamento das consciências frente a alguns fatos/atos/palavras que, no entanto, mereciam ser melhor observados ou mesmo contestados. Por isso foram convocados alguns “eus” narrativos, que sussurram suas mensagens e mostram que a ironia, afinal de contas, faz parte da viagem que os seres humanos empreendem pela vida.
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